segunda-feira, 30 de maio de 2011

Definição de Video-Performance

Vídeo-arte engloba vídeo-instalação, vídeo-interação, vídeo-performance, vídeo-dança, videotexto, videoclip, vídeos criados a partir de computação (gráfica e organizacional da imagem), documentários cuja sintaxe supere a narrativa, enfim, tudo que fuja da convencional televisão, documentação e jornalismo.
Diante da amplitude do que seja vídeo-arte ténues parâmetros podem ser usados para delinear vídeo-performance que, em princípio, pressuporia que na sua organização sintáctica houvessem sintagmas herdados ou traduzidos da performance, como actuação, temporalidade, ambiguidade, apresentação maior que representação, alusão ao efémero e ao insólito. Vídeo-performance poderia ser considerada então como uma performance de segundo nível, já que uma é consequência da outra. Neste nivelamento não estariam questões qualitativas.
Wolf Vostell, muito antes da invenção da fita magnética manifestava a sua inconformidade contra a televisão e agredia-a, nas suas performances e instalações como ser “material” embora simbólico. Actos como disparar contra um televisor e enterrá-lo em cimento simbolizavam bem a inconformidade contra o gigante que ameaça, aprisiona e não se deixa tocar.
Nam June Paik, mais espiritual, desconstruía a imagem a partir da sua "estrutura imaterial", para criar outra mensagem cuja matéria era a própria imaterialidade: feixes de electrões reajustados a partir de interferência electromagnética.
Vostell e Paik são pólos opostos na vídeo-arte, entre eles situa-se a vídeo-performance, porque ela faz a síntese entre o material e o imaterial. Na vídeo-performance, como o próprio nome diz, o vídeo representa no mínimo metade do trabalho, a parte restante é performance. Isso quer dizer que um sem o outro é exactamente aquilo que o seu nome diz: ou vídeo, ou performance.
É próprio da performance, embora não uma generalidade, a colagem multimédia, contudo, não basta ser uma performance com vídeo para se poder caracterizar de vídeo-performance.
Mas se não basta usar vídeo numa performance para realizar vídeo-performance, como diferenciar então, se até entre os realizadores e estudiosos o conceito de vídeo-performance é bastante flutuante, não havendo um real consenso! Porem, existe então um consenso sobre o que seja vídeo-arte?
Bem, a falta desse consenso existe em função dos limites que são ínfimos entre as linguagens que se utilizam desse meio (o vídeo), como é o caso da performance em relação ao teatro ou a instalação. A respeito disso, Peter Frank argumenta: "Onde a termina a imagem e começa o environment, onde termina o environment e começa a performance - os limites são ténues, se por ventura se pode dizer que eles existem efectivamente."
Dany Bloch define vídeo-performance "como uma actuação na qual o vídeo faz a maior parte; ou poderia ser o uso simultâneo do vídeo e do corpo do performer" onde a câmara teria uma função tão importante quanto a do corpo. De todo modo essa definição deixa brechas para considerações subjectivas. Como definir a importância de determinado elemento dentro da uma colagem, como é o caso das linguagens híbridas tratadas aqui. E ainda, a questão da simultaneidade do uso do vídeo e do corpo é aplicável a um caso de performance cujo detalhe da acção seja feito no vídeo, durante o espectáculo. E isso não é vídeo-performance. Apenas o vídeo é usado como elemento complementar na colagem multimédia. É claro que a sua função ali tem a ver com a proposta do performer, tem alguma relação simbólica ou formal com o todo, mas é um elemento que se agrega ao todo.
Willoughby Sharp define vídeo-performance "como um trabalho de performance no qual o vídeo é tanto integrante quanto inseparável da própria performance - do ponto de vista do espectador - de modo que o trabalho não pode ser assimilado na ausência do elemento vídeo."
A vídeo-performance personifica um diálogo entre o espectador e o performer através do elemento vídeo. Esse potencial pode ser mais ou menos utilizado mas deve ser manifestado, como no caso de Gina Pane em "Nowrriture" (1971), que obtinha um retorno dos espectadores através de uma camera que os filmava enquanto ela, de outra sala, mantinha comunicação.
Porém, a interacção entre performer e espectador não se restringe ao verbo/visual. O próprio fato de alguém estar a assistir a uma vídeo-performance presume uma presença física. Isto já é interacção a um nível baixíssimo, é claro. Ainda este nível está sujeito as alterações de humor frente ao trabalho de acordo com o reportório que esse espectador traz. Ocorre a nível psíquico numa primeira fase e vai aumentando segundo interferência da vídeo-performance naquele reportório. É quase o mesmo tipo de relação com o espectador que há na performance, apenas sujeito a um intermediário necessário: o vídeo.
Num trabalho como o de Chris Burden, "Back to You" (1974) é evidente o papel do espectador. O trabalho não se equaciona sem a participação do voluntário que se predispõe a entrar no elevador onde Burden se encontra e a enfiar-lhe os alfinetes no corpo. O vídeo por sua vez é o que permite haver esse contacto, portanto ele intermedeia imprescindivelmente.
Na vídeo-performance, essa interdependência entre parte corporal e parte tecnológica gera um meio híbrido, que justifica a classificação, intermédia. "A combinação de dois ou mais canais a partir de uma matriz de invenção, ou a montagem de vários meios pode fazer surgir um outro, que é a soma qualitativa daqueles que o constituem. Nesse caso a hibridação produz um dado inusitado, que é a criação de um novo meio antes inexistente. Uma segunda possibilidade é sobrepor diversas tecnologias sem que a soma, entretanto, resolva o conflito. Nesse caso, os múltiplos meios não chegam a realizar uma síntese qualitativa, resultando uma espécie de colagem que se conhece como multimédia." (PLAZA, 1987: 65).  
O Texto integral está publicado nos a

Referências Bibliográficas
COHEN, Renato. Performance como Linguagem. São Paulo: Col. Debates, Perspectiva, 1980.
GLUSBERG, Jorge. A Arte da Performance. São Paulo: Col. Debates, 1987.
GOLDBERG, RoseLee. Performance Art - From Futurism to the Present. London: Série World of Art, Thames & Hudson, 1988.
MATUCK, Artur. "O Potencial Dialógico da Televisão - Comunicação e Arte na Perspectiva do Receptor." Tese de Doutorado, São Paulo, ECA-USP, 1989.
SHARP, Willoughby. "Videoperformance". in SCHNEIDER and KOROT. Video Art - An Anthology. New York: Harcourt Brace Jovanovich, 1980.
SCHNEIDER, Ira and KOROT, Beryl. Video Art - An Anthology. New York: Harcourt Brace Jovanovich, 1980.


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2 comentários:

Unknown disse...

Muito legal

Rafa Moraes disse...

Adorei ♡

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