quarta-feira, 1 de junho de 2011

Imperium - La fura dels Baus

Muito haveria para escrever sobre aquela a que arrisco apelidar da maior companhia de teatro espanhola. As características das suas obras, aliadas à multidisciplinaridade das apresentações transformam um projecto irreverente num verdadeiro poço de criatividade. Dos espectáculos de cenário às óperas, muitos espectáculos compõem o historial da companhia, contudo é ao nível dos projectos concebidos em linguagem furera e nos macroespectáculos que a companhia atinge o expoente máximo de notoriedade.
A linguagem furera foi convencionada pela imprensa espanhola, passando esta a descreve-la segundo quatro características fundamentais; a apresentação em espaços encontrados como espaços não convencionalmente construídos e utilizados para o efeito. A segunda característica é a de que os fureros eram os autores, directores, encenadores, produtores e intérpretes de suas obras. A terceira é composta pelo interesse e a troca artisticamente interdisciplinar com diferentes linguagens e mídias na composição e apresentação dessas obras. E a quarta característica da linguagem furera seria a falta da quarta parede ou de qualquer outra barreira entre espectadores, actuantes e obra.

A companhia La Fura dels Baus nasce em 1979, traçando desde a sua génese um percurso dominado pela constante evolução e pelas novas incursões a nível das artes cénicas. Nos primeiros anos o projecto dedica-se exclusivamente a teatro de rua, combinando desde logo vários recursos cénicos numa só produção. A maior inovação da companhia passou pela criação de espectáculos muito interactivos, em que de repente o tradicional espaço do público é invadido pela acção. O seu trabalho, desde cedo, se conseguiu adaptar de forma impar ao espaço arquitectónico da acção.

Ao longo do tempo a companhia soube sempre evoluir e não deixou escapar a revolução tecnológica. Hoje, cada vez mais, presentes nos espectáculos da companhia estão efeitos de projecção multimédia e efeitos visuais e sonoros, que superam os habituais limites da acção teatral.
 “Imperium” afirma-se como uma abordagem contra todos os tipos de imperialismo. O espectáculo desenrola-se em 5 actos... as 5 etapas do processo imperial, medo; oratórias; domesticação; conversão; todas mortas. O processo de criação de Imperium nasce da necessidade de levar à cena um protesto contra as diferentes formas de imperialismo. O imperialismo é entendido como uma forma de relação entre duas entidades, indivíduos ou sociedades, na qual uma submete a outra e, se não o consegue, aniquila-a, sem recorrer a qualquer espécie de tentativa de mediação.

“Imperium” representa, ainda, um marco histórico para a companhia, inicialmente composta exclusivamente por homens, ao apresentar o seu primeiro espectáculo representado apenas por mulheres.



As 5 etapas do processo imperial:

MEDO
O público entra num espaço onde se encontra com o caos... enfrenta o medo. Esta primeira cena invoca na mente do espectador os monstros da sociedade: a morte dolorosa, a impotência, o desânimo, o vício, a ruína material, a insegurança, o terrorismo...



ORATÓRIAS
Na segunda etapa do processo imperial surgem os discursos, como antídotos do medo. A activista, a hedonista e a moderadora irrompem pelo espaço criando três câmaras. Dali vão lançando a sua mensagem ao público. Palavras diferentes, embora sempre com a mesma ideia: se vieres comigo, eu tratarei dos teus medos. O espectador tem um período limitado de tempo para escolher em que espaço se quer refugiar. A vida fora das câmaras torna-se impossível.


DOMESTICAÇÃO
A terceira fase corresponde à produção de domesticação física e mental. A segurança tem um preço e eis que chegou a hora de o pagar. As instrutoras começam a domesticação do público através do fogo e manipulação do espaço físico. O que antes era um espaço livre está agora transformado num conjunto de vias marcadas pelas instrutoras. O espectador converte-se em “ovelha”, para pagar o preço da segurança. De seguida, o público volta a encontrar refúgio debaixo de uma grande tela, onde se projectam os textos das mensagens de domesticação física e mental, tal e qual o mito da caverna de Platão. A grande tela acaba por cair sobre o espectador, obrigando-o a ajoelhar-se para se poder libertar. A domesticação física chega ao fim com este acto de vassalagem. A fase final é a auto-censura. Todo o processo de domesticação incluí uma etapa de autodestruição das partes que não querem colaborar. Nesta sequência, as instrutoras destruirão bonecos de palha que confirmam a derrota do inimigo interno: a consciência.




CONVERSÃO
Finalmente, atinge-se a etapa da conversão. As instrutoras escolhem as pupilas entre o público para passar à fase seguinte: conversão ou morte. Ao entrar na zona de conversão, as pupilas devem mudar de pele. Esta mudança é também realizada pelo espectador, banhado com areia branca. O culminar do processo imperial é o canibalismo. Desta forma, as pupilas devem comer uma delas. Captura, sacrifício e ritual canibal como prémio para todas as que atingiram o pico do processo, que tem como testemunhas os espectadores.



TODAS MORTAS
Porém, a cadeia de mortes que envolve o processo imperial é infinita. A lei do “olho por olho” só tem um final possível: todas mortas. E assim é, o poder quer mais poder e as pupilas matam primeiro as instrutoras e depois desatam numa guerra fatídica em torno da pirâmide. No final, as duas últimas pupilas realizam entre elas um duelo até à morte. A última etapa do imperialismo é uma estação onde só há morte e vício. Só resta o vento e o intenso cheiro a morte.




«”Imperium” é um convite ao pensamento invertido, a remar contra a maré, a desorientar-se (...), conjugando a energia do nascimento e do enterro. É um lugar destinado a recuperar o prazer da diversidade, a sair do conceito standard».

Imperium foi apresentado nos dias 28, 29 e 30 de Maio de 2009 no pavilhão da Lavandeira em Santa Maria da Feira, uma produção brutal na qual eu tive o privilégio de participar como técnico.





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1 comentários:

Unknown disse...

Olha nao quero ser desmanchas prazeres, mas não te esquecas que tens de publicar os trabalhos das aulas q tivemos c a prof tanto do 1º como do 2º semestre! Vá, mas fora isso ta muito bom!!! E ainda acabas de me dar umas luzes sem querer... =) =) =) Beijinho.

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